A parábola do casamento

A parábola da troca do salto alto pelo chinelo na festa de casamento.

Dizem que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. O problema é que às vezes a sociedade toda combina de sofrer e aí, ficamos todos juntos, sofrendo e reclamando, sem parar. Mas dá pra mudar tudo isso. Juntos.

Festa de casamento é um dos momentos mais simbólicos da nossa sociedade. Todo mundo arrumado, bonito, sorridente e parado, sofrendo horas na cerimônia interminável pra celebrar a felicidade de pessoas que amamos. As roupas são lindas, mas inconvenientes, os sapatos são chiquérimos, mas desconfortáveis. E isso se você estiver entre os convidados, porque se for madrinha ou padrinho vai ficar em pé o tempo todo, se equilibrando nos saltos altíssimos, muitas vezes passando peso do corpo de uma perna pra outra, pra tentar ‘descansar’.

A tensão diminui quando chega a hora da festa, onde é possível sentar um pouco para aliviar as dores, mas o sofrimento só acaba mesmo quando chega o momento do milagre da distribuição de chinelos. A mulherada tira os sapatos e sandálias de salto agulha e ressuscitam seus pés em deliciosos chinelinhos rasteiros. E aí todo mundo cai na pista e dança feliz até o amanhecer.

E a pergunta é: por que sofremos de forma voluntária por tanto tempo se o alívio estava logo ali? Resposta: porque a sociedade ‘combinou’ que salto agulha dolorido é bonito. Que a beleza tem que conter sofrimento. Que não podemos dizer a verdade, que temos que manter uma imagem, que temos que aceitar desaforo para manter as aparências, que fingir é uma forma de viver bem, que a estabilidade vale mais que a felicidade, que vale mais um pássaro na mão que dois voando.

Não! Não vale! Deixemos os pássaros livres! Abram as mãos, soltem as aves, tirem os sapatos, casem de tênis, dancem descalças, liberem o corpo, a alma, o coração, minha gente! A vida é breve demais para optar pelo sofrimento! Vamos combinar todos nós, todas nós, juntos, que não precisamos manter as aparências, que podemos casar em cerimônias simples e breve, que todo mundo pode estar bonito e confortável. Vamos tornar a vida mais gostosa o tempo todo. A dor sempre vai existir, é inevitável, mas o sofrimento é opcional! Como se diz nas redes sociais, se a gente combinar direitinho, todo mundo transa! Todo mundo fica feliz!

ROSANA HERMANN Escritora, corredora e tricoteira, sempre ligando pontos e tecendo considerações. rosana@gmail.com
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