Querer e não querer

Essa semana depois de uma palestra conversei com um grupo de estudantes sobre escolhas. A preocupação deles é não saber ainda com clareza o que querem e nem pra onde se direcionar. E ao mesmo tempo ter que lidar com tantas pressões e obrigações que a sociedade vai nos impondo no caminho.

Muitos não se sentem bem com as opções que se apresentam e a insegurança aumenta.

A gente não precisa, logo de cara, saber o que quer, aliás essa é uma grande tarefa pra vida toda. Cada minuto a gente tem que fazer escolhas e em cada momento de transição parece que a liberdade da gente fica por um fio.

Mas liberdade não significa necessariamente saber o que a gente quer. Ser livre não implica em ter descoberto todos os desejos. A gente vai conquistando a liberdade a cada passo e mesmo sem saber pra onde se vai e é fundamental não sermos obrigados a seguir direções que não queremos de jeito nenhum.

Liberdade significa não aceitar caminhos impostos, padrões impostos, rótulos, papéis, comportamentos e regras com as quais não nos identificamos. Não ser o que não nos traduz.

Começar sabendo o que a gente não quer e sacando o que a gente não é, já tira da frente um monte de coisa que não nos interessa. E vai facilitando as nossas escolhas.

Uma boa parte da felicidade resulta dessa liberdade de poder fazer o que se gosta e de gostar do que se faz. De poder descobrir quem a gente é e trabalhar para se tornar essa pessoa.

Essa é uma escolha primordial e uma maneira da gente se orientar na vida.

Em qualquer situação temos essa possibilidade, independente das circunstâncias em que vivemos.

Alguns podem alegar que isso é um privilégio, mas é preciso compreender que isso é simplesmente uma perspectiva, um jeito de olhar a vida, seja sua vida qual for.

O poeta português José Régio em seu maravilhoso Cântico Negro diz:

                   “Não sei por onde vou

                    Não sei para onde vou

                    Sei que não vou por aí.”

Esse poema traz a rebeldia de não aceitar a direção que nos obrigam a ir, de não deixar que nos transformem naquilo que não queremos ser.

Somos todos interdependentes e nossas vidas são conectadas. Mesmo assim, não precisamos nos tornar aquilo que os outros querem que a gente seja, se essa não for a nossa verdade.

Temos que resistir a ser empurrados para um caminho que não queremos ir, temos que respeitar o que somos e sentimos para poder achar a nossa felicidade.

Nossa missão é essa, encontrar isso tudo: decifrar o que somos e queremos, nossas emoções, crenças, desejos, vontades, nossas loucuras, nossos medos, toda a complexa teia de sensações que nos envolve.

Seguimos caminhos difíceis, vamos errando, nos enrolando, complicando, porque é assim mesmo que vamos descobrir aos poucos nossa verdadeira identidade.

A gente embarca numa jornada mesmo sem ter ainda uma ideia do nosso rumo. Se joga sem ter noção de onde isso nos leva.

Mas quando a gente sabe o que não quer, fica mais simples encontrar tudo o que somos e podemos ser.

Lembrando o verso de Antonio Machado que resume isso:

“Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar…”

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2 Comentario(s)

Rosemar Couto disse:

Bom dia com muita felicidade 🌅
Meu Nome é Rosemar Couto
Sou do Rio de janeiro
Município de Nova Iguaçu
Como fico feliz de ler um texto de tamanha grandeza num mundo onde os valores estão invertidos
O preconceito ainda domina e a desigualdade social cada vez aumenta mais…Sem falar na falta de solidariedade e Amor só próximo
Estou criando uma Associação de Mulheres… justamente para discutir temas tão importantes como esse…Somos mulheres…do lar…que sofrem dia após dia o descaso do nosso poder publico e a falta de políticas públicas direcionadas a esses segmentos
Estou muito feliz…
Muito obrigada por meus olhos poderem contemplar um texto tão valioso e de tamanha grandeza
Parabéns 👋 👋👋👋
Felicidades sempre 🙏😘😘

Augusto Pimentel disse:

Estimada Bruna:

Este pensamento do grande poeta espanhol Antonio Machado,
autor do lindo poema: “Cantares”,que fala de Andaluzia,
região sul da Espanha, me faz lembrar outro pensamento de
Mahatma Ghandi:
“Não há caminho para a paz; a paz é o caminho!”
E esta paz nos proporciona a serenidade para fazer nossas
escolhas com mais tranquilidade, parcimônia e sabedoria.

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