Comunicado

Visitei Abadiânia pela primeira vez e fui conhecer o medium João de Deus em julho desse ano. Fui com minha família e passamos dois dias. Fomos apenas por curiosidade, ninguém precisava de cura e nem buscava apoio espiritual. E todos, inclusive ele, foram extraordinariamente gentis conosco.  Alguns meses depois o choque. As notícias, os relatos, as histórias de todas essas mulheres que tiveram a coragem, depois de tanta dor, de denunciar o abuso. E dói pensar que foi preciso quinhentas mulheres pra calar a voz de um homem. Dói pensar num sistema conivente que fragiliza a tal ponto a posição da mulher, que ela se recolhe, com dor e vergonha, sabendo que não tem a força suficiente para ser ouvida. Dói pensar que a vítima desiste sabendo que tudo é impune. Quantas vidas massacradas ainda vão se calar diante de uma sociedade que absolve feminicídios? Que admite e compactua com a violência doméstica? Que nem registra abusos entre marido e mulher?

Esse foi um ano transformador. Acenderam-se os porões e a brutalidade da natureza humana deixou marcas e perdas irreparáveis. Todos perdemos um pouco. Fé, confiança, esperança. Perdemos pessoas que lutavam, perdemos heróis anônimos… E diante de todo esse cataclisma, de todo esse movimento do magma, ficamos perplexos e mais sofridos. Vozes de razão, vozes de ódio, vozes de medo, vozes de separação. Um mundo polarizado. Uma velha frase do Bernard Shaw dizia que o bom senso existe, mas se esconde com medo do senso comum.

Mas da mistura de tudo isso nasce uma nova flor. Uma nova liberdade. Uma nova força. Não somos mais as bruxas caçadas e queimadas, somos fruto da mistura de tudo isso, que resulta numa nova resistência. Agora somos imbatíveis. Sabemos que podemos. Podemos contar umas com as outras, podemos ser o que somos e alcançar o que queremos. Estamos juntas, somos solidárias, ninguém tá sozinha. A gente consegue sim transformar a situação. A voz de uma é a voz de todas.

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2 Comentario(s)

Maria Das Graças Silvano disse:

Estou sentindo falta da turma do “Mexeu com uma , mexeu com todas “; “me too”; e tantas outras. Cadê aquela mobilização? Cadê a Marquezines, a Claudia Leite? Cadê a Sasha Meneguel? Onde estão que não respondem?

Solange Gomes da Silva disse:

Graças a Deus, renascemos… mais fortes. Gratidão por estar sempre conosco…juntas somos mais fortes!! Bjs na Alma.🙌🏻❤️

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