A difícil arte de escutar

Uma relação pode ser mais madura e equilibrada se a gente prestar atenção na maneira como fala e escuta. Num mundo ideal as pessoas deveriam se comunicar de forma positiva, clara, afetuosa e transparente. E aprender a ouvir atentamente sem julgamentos, ansiedade, impaciência ou conclusões precipitadas.  Parece impossível?

Venho de uma família italiana onde todos sempre falavam ao mesmo tempo e ninguém parecia escutar ninguém, mas de uma forma misteriosa, todos se entendiam naquele modo intenso de viver.  Quando eu era criança, eu nem sabia que podia ser diferente. A primeira vez que eu vi uma conversação com pausas, em que um falava e o outro ouvia em silêncio antes de responder, foi no cinema. Aquilo me marcou. Parecia uma outra civilização.

Demorei muito e foi um longo aprendizado aprender a grande arte de não interromper. Treino até hoje. Exercito a paciência de escutar até o fim o que já entendi sem interromper pelo imediatismo do que quero dizer.

Discutir qualquer relação deixa a gente com os nervos à flor da pele.  Brigas mexem com a saúde do nosso sistema nervoso.  A ansiedade e a impaciência são as principais inimigas de qualquer diálogo produtivo e quem briga, logo de cara perde a razão.

Toda comunicação ansiosa é truncada, fragmentada e cada palavra vem com uma carga emocional, uma história que se repete, cria mal entendidos, cada frase traz uma conotação de coisas não resolvidas, que foram se acumulando em algum sótão dentro da nossa cabeça,

Egos se digladiam na pressa de falar, sentimentos se atropelam. Perdemos as nuances, as delicadezas, as sutilezas que nos habitam,  E são esses sentimentos amorosos que deveríamos trocar, ao invés de asperezas, opiniões pontiagudas, afiadas que atingem como flechas, machucam, ferem, nos fazem sangrar por dentro.

Hora de mudar.  É um bom momento para limpar tudo isso dentro de nós, jogar fora esse  peso que carregamos inutilmente. Tudo o que provoca raiva, tristeza, ressentimento, mágoa e dor.  Limpar e criar um novo caminho, um novo fluxo aberto pro diálogo onde a energia possa fluir com leveza.
Em alguns momentos vamos ter que deixar nossas verdades e certezas de lado para compreender diferenças de opinião. Só quando a visão de cada um for respeitada, mesmo oposta à nossa, vamos poder conviver em harmonia.

Quando a gente se esforça pra melhorar a comunicação, cuida  não só do que diz, mas da maneira como diz.  Escuta o outro  com atenção, mesmo sem concordar, porque só assim se constrói uma relação serena.

E é possível dizer tudo o que se quer com honestidade, se a gente usar gentileza, humor e um pouco de mel para atenuar as palavras. Todo mundo respeita sinceridade, franqueza e convicção, desde que não seja uma atitude imposta. Não adianta ter razão agressivamente. Tudo precisa vir de um sentimento do bem.

Escutar é uma forma de amor.  Uma arte difícil que ajuda a trazer paz pra qualquer discussão.

Fale com amor, ouça com paciência e veja a diferença.

Voltar

Compartilhe com seus amigos

1 Comentario(s)

FLAVIA VIEIRA DAS MERCES disse:

Adorei o texto! Já fui muito de falar, falar e falar. Hoje tento exercer a arte de ouvir e refletir. Todos têm as suas razões, nem sempre os meus argumentos serão aceitos pela maioria, não é fácil abrir mão daquilo que suponho ser o certo, mas atualmente reflito mais.

Comente esta publicação:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *