O Jardim Zen de Ryonji

Admirava o cenário minimalista do jardim de pedra no templo de Ryoanji na parte oeste da cidade Kyoto. Para compensar os dias chuvosos que castigavam a região, naquela manhã o Sol havia aparecido timidamente entre as nuvens. Com apenas 300 m2 e 15 rochas espalhadas em um chão retangular coberto de pedrinhas de cascalho brancas, o local é o jardim zen mais famoso do mundo.

O ambiente foi criado e concebido como portal de meditação. O jardim Zen de Ryonjai é completamente diferente dos jardins que encontramos pela Europa e nos interiores da Índia. Não existem árvores, arbustos, flores ou fontes. Respirava e meditava no portal zen com uma multidão de turistas estacionadas por todos os lados tentando destilar o significado do jardim.

A contemplação silenciosa era uma tarefa dificílima diante do zum-zum-zum e disparos das máquinas fotográficas. Meu olhar devaneava juntamente com a minha respiração e contemplava as paredes que circundam o jardim, feitas de barro cozido em óleo, em comunhão absoluta com os cascalhos e as rochas.

O templo foi fundado em 1450 e o jardim planejado por Soami, um pintor e paisagista falecido em 1525. Várias teses e interpretações já foram reveladas, mas o significado continua a disposição de quem tem tempo de não apenas tirar fotografias. O enigma persistia e ao final da entrecortada meditação, decidi continuar minha pesquisa de campo onde iria fazer outra experiência zen.

Visitar o templo de Tenryu-ji para degustar da mais autentica culinária zen.  Na fachada de entrada do templo de Tenryuji somos recebidos por uma pintura do criador e introdutor do budismo zen o venerado Bodhidarma, mais conhecido no Japão com Daruna. A fome extrapolava o bom senso. Perguntei para o jardineiro, um velhinho japonês simpaticíssimo, onde ficava o restaurante. Sua comunicação era uma mescla de sorrisos, risadas e algumas palavras, como bom entendedor deduzi que o restaurante chamava-se Shigetsu e que localiza-se nos fundos do complexo.

O restaurante é simples e austero. As salas de refeição não possuem nenhuma gravura, cadeira, mesa ou qualquer arranjo. Sentei no tatame e uma senhora apresentou o que seria nosso almoço. Concordei e pedi para trazer todos os itens e iguarias do menu. Enquanto aguardava a comida, li um folheto explicativo que dizia que as refeições servidas são cuidadosamente planejadas e preparadas pelo monge-chef que possui o titulo de “Tenzo”.

A responsabilidade do TENZO é de servir refeições que possibilitem a qualquer pessoa de praticar o Zen, eliminando os obstáculos mentais e corporais. As refeições têm que oferecer uma harmonia dos seis sabores básicos: Amargo, azedo, doce, salgado, leve e quente. Ingredientes de odores fortes, como o alho e a cebola são banidos da culinária zen-budista.

O almoço foi um verdadeiro manjar zen-budista. Tanto a bandeja como as cumbucas são cobertas por uma fina camada de laca. O visual agradava o olhar e ativava o paladar. O conjunto da refeição era composto de cumbucas de arroz branco, tofu quente com cogumelo, tofu doce com um leve sabor de canela e outras cumbucas menores, com conservas de pepino, beterraba ralada, fava, nato e acepipes misteriosos.

A mistura dos sabores estimulava as glândulas degustativas. Completamente diferente do que comemos em casa e nos restaurantes vegetarianos ao redor do mundo. Ao final foi servida uma densa sopa de tofu embebida em um molho coberto de gergelim. Depois de insistir com a coordenadora do local, fui conhecer as dependências da cozinha oficial do templo.

O Tenzo explicou que os monges em treinamento fazem três leves refeições diárias. Pela manhã uma tigela de mingau de arroz, uma ameixa salgada e rabanetes em conserva. No almoço, uma tigela de arroz ou cevada, sopa, legumes cozidos e os picles de rabanete, nabo ou outra conserva. A noite, uma levíssima refeição com mingau feito das sobras do almoço e da primeira refeição do dia.

Cada monge lava e cuida do seu conjunto (cumbucas e palitinhos). Nada é desperdiçado e a água da limpeza é ingerida ou guardada. A experiência culinária no templo foi fascinante, além de me deixar cheio de energia para continuar minha peregrinação pelos castelos, mosteiros e curtir a beleza do desabrochar das cerejeiras.

Arthur Veríssimo Jornalista, apresentador, palestrante e peregrino. arverissimo@gmail.com / Instagram - @verissimoarthur
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