A revolução dos cabelos prateados: um símbolo de liberdade ou uma nova prisão?

Até recentemente, não pintar o cabelo era considerada uma escolha de mulheres pouco vaidosas e desleixadas, que não se preocupavam com a aparência, que desistiram de ser atraentes e sensuais, que envelheceram antes do tempo.

A pandemia provocou a aceleração de uma tendência que eu já vinha acompanhando nas minhas pesquisas. Não pintar o cabelo está na moda, como mostram inúmeras celebridades no Brasil e no exterior consideradas ícones da beleza e da sensualidade femininas. Essas mulheres estão provando que o cabelo branco é um modelo de beleza cada vez mais legítimo no universo da moda e fora dele.

Tenho observado que, nos últimos dois anos, a pergunta que era tão comum: “Por que você não pinta o cabelo?”, passou a ser substituída cada vez mais por: “Por que você pinta o cabelo?”.

Muitas mulheres perguntam em um tom acusatório: “Por que você pinta o cabelo?”, enquanto outras insistem: “Por que você deixa seus fios grisalhos aparecerem?”. Agora temos que responder duas perguntas opostas como cobranças por um modelo de beleza feminina.

Os discursos mudaram tão radicalmente que o cabelo branco deixou de ser um estigma para ser um valor para mulheres de todas as idades.

Um país que valoriza a juventude e despreza a velhice vai demorar a entender que o cabelo branco não é uma aposentadoria da vida sensual e do cuidado com o próprio corpo.

Esse novo modelo de beleza ainda é muito recente no Brasil e, por isso, muitas mulheres ainda são criticadas quando assumem seus cabelos brancos. Isso acontece porque os discursos mudaram, os comportamentos também mudaram, mas os valores culturais ainda permanecem interiorizados dentro de cada uma de nós. Não podemos esquecer que o cabelo sempre foi um signo de beleza e sensualidade, principalmente no Brasil, onde o corpo jovem é um capital. Aqui, as mulheres, mais do que em outras culturas, estão (ou estavam?) aprisionadas à obrigação de frequentar o salão de beleza semanalmente.

Estamos atravessando um momento de ambiguidade. De um lado, somos aplaudidas quando nos libertamos das tinturas. De outro, somos criticadas por mostrar as marcas do envelhecimento. Ainda sofremos a pressão de uma sociedade que nos massacra e nos torna invisíveis quando começamos a envelhecer.

Quanto mais mulheres se sentirem bonitas e plenas com o cabelo grisalho (ou com as cores que elas quiserem e acharem bonitas), mais rapidamente o olhar da sociedade sobre o que é considerado belo vai mudar. Cada mulher que se liberta, liberta muitas outras para se sentirem mais plenas e belas de acordo com as próprias escolhas.

Como mostro no meu livro Liberdade, felicidade e foda-se!, as minhas pesquisas têm revelado que, para se sentir livre e feliz em todas as fases da vida, é preciso ligar o “botão do foda-se” para os estigmas e preconceitos sociais sobre o envelhecimento feminino.

As mulheres não podem ficar prisioneiras de novas prisões. Cada uma de nós precisa ter liberdade, força e coragem para escolher o que quiser, o que achar mais bonito e verdadeiro para si mesma, e não para o que os outros querem, exigem e cobram. Enquanto ficarmos tentando agradar e satisfazer às exigências dos outros, nunca descobriremos qual é a nossa verdadeira beleza. Precisamos, mais do que nunca, ligar o botão do foda-se, inclusive para as cobranças e pressões das próprias mulheres. Liberdade é poder escolher, sem a pressão e a imposição de ninguém, a nossa verdadeira beleza.

O que você gosta mais? Prefere o cabelo prateado, dourado, vermelho, azul, rosa, verde? Qual é a cor que melhor representa o seu eu mais verdadeiro e belo?

 

Mirian Goldenberg Antropóloga e pesquisadora sobre envelhecimento e felicidade - miriangoldenberg@uol.com.br
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1 Comentario(s)

Eloísa Faria disse:

Gosto❤ dos meus fios brancos. São minhas luzes prateadas.

E gosto, também, de quando coloco máscaras pigmentante na cor lilás ou violeta (não para esconder os brancos). Tou querendo escolher o marrom, também.

Um abraço prateado e lilás

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