A BUSCA

Desde sempre na vida o meu desejo era descobrir as Leis do
Universo. Eu usava exatamente essa expressão, acreditava que
existiam leis, princípios no universo que regiam tudo. E que uma
vez descobertos facilitariam enormemente a complexa arte de
viver.

Eu era maravilhada diante do mistério. E continuo sendo.
Sabia que não ia ser uma cientista pela minha pouca paciência
com os números. Mas era fascinada pelas teorias.
Achava que os números só vinham depois, para validar essas
grandes idéias, que seriam provadas com a precisão da
matemática.

Eu queria descobrir, mesmo que eu nunca pudesse provar pra
ninguém. E nem falar pra alguém, já que nenhuma das minhas
amigas tinha o menor interesse no assunto. Isso era só meu,
pessoal. Seria minha orientação no caos do mundo, me ajudaria a
escolher quando confusa. Isso, que eu nem sabia o que era, seria
meu Norte.

Passei a vida toda desde a adolescência questionando coisas.
E comecei cedo. Lembro que na escola, na época da primeira
comunhão, tivemos um padre que nos prepararia dando
temporariamente aulas de religião. E veio aquele senhor de
batina preta, caspa e um leve sotaque italiano, que na primeira
aula tentou explicar o nascimento de Jesus e a concepção de
Maria. Tema polêmico que me levou a levantar a mão várias
vezes pra fazer uma série de perguntas, porque eu sinceramente
na minha tenra idade, queria entender.

Acho que não demorou muito pra ele ficar de saco cheio e dizer
quase ríspido que religião é uma coisa em que se acredita ou não.
E ponto final. Não se fica fazendo tantas perguntas. Minha
intenção não era irritar o padre, eu tinha dúvidas reais mas
percebi que era melhor ficar quieta.

Na aula seguinte ele começou dizendo que se alguém tivesse

outra religião poderia sair da classe. Vi ali uma oportunidade de ir
pro recreio e ter uma hora livre só pra mim. Mesmo sendo de
uma família católica levantei e saí. Com receio que ele me
perguntasse de que religião eu era, porque eu não conhecia
nenhuma outra naquele momento.

E assim não fiz a Primeira Comunhão. Aos sete anos de idade
desafiei a Santa Igreja Católica. No período das Trevas eu seria
condenada pela Inquisição.

Mas meus pais eram liberais e não davam muita importância às
convenções. Eu mais tarde em várias ocasiões tentei me
reconciliar com alguns dogmas e fiquei amiga de vários padres.
E continuei minha busca, conversando com intelectuais, lendo
livros complexos, estudando religiões, alquimias e filosofias que
me trouxessem alguma luz.

Visitei ruínas, templos e museus acreditando que a magia e o
mistério da Antiguidade pudessem me revelar alguma coisa.
Talvez nossos ancestrais tivessem se conectado com um poder
maior. Via símbolos, ideogramas, insígnias e tentava
compreender significados ocultos. Me sentia atraída por alguns
como se fosse uma espécie de reconhecimento.
Só o tempo revela as Leis do Universo e elas são simples. Aos
poucos se mostram claras e a gente descobre que estavam ali o
tempo todo, mas nós ainda não estávamos prontos.
Esse ofício leva a vida inteira.

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2 Comentario(s)

Edson Carlos Lopes disse:

Mas é isso mesmo, todos nós temos dúvidas. Não é a primeira fala que se dirige a alguém que pode convence- las é uma pura verdade. Eu também passei de 9 a 10 anos dentro de uma denominação religiosa, mas sempre prestando a atenção não só nos que derigia a denominação ou dizia , mas também nos que governava e fazendo investigação nas publicações, e encontrei repetições ano pós ano . Isso poderia chamar de lavagem cerebral ou seja um puro controle mental.E essa história vai longe em !

Jorge Brochado disse:

Bem pôr aí,tens toda a razão 👏👏👏💯

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