As próprias mulheres criticam e patrulham as escolhas femininas que fogem do modelo mais tradicional de “esposa e mãe”
No meu novo livro “A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade” eu desafio as mulheres a refletirem sobre suas cobranças e patrulhas relacionadas às escolhas de mulheres que fogem do padrão social.
Mulheres que casam com homens bem mais jovens, mulheres que não têm filhos, mulheres que estão fora do modelo de corpo jovem, magro, sensual, mulheres que são mais livres sexualmente, outras que se aposentaram da vida sexual e muito mais.
Adoro ouvir histórias de mulheres que rompem com os padrões e com as prisões que cercam as escolhas femininas.
Exatamente por este motivo, minha tese de doutorado foi sobre a revolucionária Leila Diniz.
Ao longo de mais de 30 anos de pesquisas, com 5000 mulheres e homens dos 18 aos 98 anos, aprendi que cada mulher que se liberta, liberta muitas outras mulheres que se sentem prisioneiras de suas vergonhas, medos, culpas e inseguranças.
Nos últimos anos, cresceu significativamente o número de mulheres que não querem ter filhos. No entanto, essa escolha ainda não é considerada legítima e aceitável por muitas brasileiras. Até os meus 45 anos, fui bastante questionada por ter feito a opção de não ter filhos.
Uma das perguntas mais frequentes que eu escutei das minhas amigas foi: “Quem vai cuidar de você na velhice?”.
Quando perguntei: “Quem vai cuidar de você na velhice?”, mulheres de diferentes idades, inclusive as que têm filhos, responderam categoricamente: “Eu mesma”, e em seguida: “Minhas amigas”.
Quero dar um exemplo mais pessoal. Há alguns anos, eu estava dando aula na pós-graduação sobre papéis sociais femininos e contei que meu marido é o responsável por cozinhar, lavar a louça, fazer as compras no supermercado.
Uma professora meio indignada perguntou por que eu não fazia essas tarefas femininas. Um aluno respondeu: “Professora, porque ela escreve livros!”
Outro exemplo: Quantas vezes ouvi que sou magra porque não tive filhos ou que só escrevi tantos livros porque não tive filhos?
Até os meus 40 anos fui muito cobrada pelas minhas amigas para ter filhos:
“Você vai ter uma velhice solitária e abandonada”;
“Você vai se arrepender de não ter a experiência mais gratificante que uma mulher pode ter”;
“Por que então você não adota?”
Meus ex-maridos ou namorados nunca me cobraram, mas as mulheres sempre me fizeram sentir que tenho algum defeito de fabricação ou sou uma aberração por não querer ter filhos.
É verdade que essa situação está mudando rapidamente e que as mulheres hoje são mais livres para escolher se querem ou não ter filhos.
No entanto, como testemunho entre minhas alunas, muitas jovens entram em crise porque acham que irão se arrepender de suas escolhas no futuro.
Como não tenho bola de cristal, não sei se irei me arrepender ou não.
Até hoje, não me arrependi. Tenho uma vida plena, cheia de projetos, junto com pessoas que eu amo. Amo escrever, estudar, pesquisar e, principalmente, escutar as mulheres de diferentes gerações que buscam caminhos para serem mais livres e felizes.
Você acha que uma mulher pode ser feliz sem filhos?
Você acha que as próprias mulheres patrulham as escolhas femininas? Você já se sentiu cobrada e criticada por outras mulheres por fazer algo fora da caixinha?
![]() Mirian Goldenberg
Antropóloga e pesquisadora sobre envelhecimento e felicidade -
miriangoldenberg@uol.com.br
|
Comente esta publicação: