Desde 1990, quando publiquei meu primeiro livro sobre amor, sexo e traição – A Outra: um estudo antropológico sobre a identidade da amante do homem casado -, escuto a mesma queixa das mulheres “ainda” interessadas em amor e sexo: “Falta homem no mercado!” Quando não reclamam da falta de homem, elas reclamam das faltas dos seus homens, especialmente da falta de intimidade.
As mulheres que pesquisei dizem que, para os homens, intimidade é fazer sexo, ficar nu em casa e ir ao banheiro de porta aberta. Já, para elas, a verdadeira intimidade é uma forma profunda de escuta, comunicação e entrega emocional e amorosa. Talvez nesse descompasso entre os desejos femininos e masculinos, esteja a chave para compreender porque tantas mulheres reclamam da falta de intimidade.
Intimidade é uma maneira especial de estar junto, conversar, escutar, compartilhar o silêncio, uma profunda comunicação psicológica, uma forma muito especial e delicada de entrega amorosa.
Nas minhas pesquisas, as mulheres, de todas as faixas etárias, reclamam das faltas em seus casamentos: falta de reciprocidade, de reconhecimento, de respeito, de atenção, de conversa, de escuta, de romance, de beijo na boca, e inúmeras outras faltas. Algumas ainda dizem “falta de tudo”.
Já os homens, muito mais econômicos nas respostas, dizem que falta compreensão, carinho e cuidado.
O que sempre me chama a atenção é o fato de algumas mulheres justificarem suas traições como uma “válvula de escape” para a frustração que sentem com a falta de intimidade em seus casamentos.
O que é mesmo “válvula de escape”?
O termo vem da mecânica, é um mecanismo que abre automaticamente para saída do fluído, quando a pressão interna é muito grande e ultrapassa o nível de segurança. No sentido emocional, a expressão significa um meio de escapar de uma situação de muita insatisfação, estresse e pressão, quando precisamos de algum mecanismo para extravasar os excessos. Assim, buscamos atividades que ajudem a evitar a doença e a dor emocional.
É importante pensar sobre as razões femininas para buscar essas “válvulas de escape”. O fato de ser uma válvula de escape mostra que a falta de intimidade provoca um excesso de frustração, insatisfação e estresse em suas vidas. Elas precisam, de alguma forma, encontrar saídas para a dor e sofrimento que as faltas provocam, como revelou uma psicóloga de 46 anos:
“Meu marido não quer conversar sobre nossos problemas sexuais, ele se sente ameaçado quando quero falar sobre o que eu gosto e o que eu não gosto na cama. Somos felizes em outras áreas do nosso casamento, conversamos sobre tudo, mas falar sobre sexo é um tabu. Ele diz que brocha se eu começar a analisar a nossa vida sexual. Então, prefiro fingir que gozo, e, depois que ele dorme, vou direto para os meus sites com meu brinquedinho favorito. De certa forma, acaba sendo uma compensação para a maior falta do nosso casamento. Ele sabe, mas finge que não sabe e não quer falar sobre isso. Não é mais simples ter uma válvula de escape para não acabar com o casamento?”
Será que a insatisfação conjugal feminina tem muito mais a ver com a falta de intimidade do que com a falta de sexo?
![]() Mirian Goldenberg
Antropóloga e pesquisadora sobre envelhecimento e felicidade -
miriangoldenberg@uol.com.br
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