Mulheres maduras sabem a importância das amigas para gozar a maturidade com mais liberdade e felicidade
Vocês já ouviram falar da “geração sanduíche”? É a geração das mulheres que cuida dos pais e dos filhos, e que se sente sem tempo para cuidar de si. Exatamente por isso, entre os 35 e 45 anos, em média, as mulheres que eu pesquisei se sentem menos felizes, pois estão exaustas, estressadas e deprimidas com as inúmeras demandas e responsabilidades na casa, na família, no trabalho etc.
Muitas me contaram:
“Eu cuido de todo mundo: dos meus pais, filhos, marido, colegas de trabalho, parentes. Não tenho tempo para cuidar de mim. Não recebo o mínimo reconhecimento, elogio ou um abraço carinhoso. E ainda escuto: ‘Não faz mais do que a sua obrigação como mulher, filha e mãe’”.
No entanto, como mostrei no meu Tedx “A invenção de uma bela velhice”, que viralizou no YouTube e está com quase 1 milhão e 300 mil visualizações, a partir dos 50, e especialmente depois dos 60 anos, muitas mulheres me disseram:
“Nunca fui tão livre, nunca fui tão feliz, é o melhor momento de toda a minha vida. É a primeira vez que eu me sinto livre para ser eu mesma. É uma verdadeira revolução”.
É o que eu venho chamando de “Revolução da Bela Velhice”, ou, melhor ainda, “Revolução da Maturidade Feminina”.
Desde outubro de 2021, estou realizando uma pesquisa de pós-doutorado em psicologia social sobre a maturidade feminina. Já entrevistei dezenas de mulheres de mais de 60, 70 e 80 anos que me contaram sobre suas trajetórias e como estão experimentando o processo de envelhecimento.
Recentemente, tive a alegria de entrevistar três amigas queridas que estão na faixa dos 50 anos: a advogada e desembargadora Andréa Pachá, de 59 anos; a atriz Carolyna Aguiar, de 53 anos e a jornalista Mariliz Pereira Jorge, de 51 anos.
O que mais me encantou ao ouvir essas três mulheres admiráveis foi a importância das amigas em todas as fases de suas vidas. Elas me disseram, de diferentes maneiras, que as amigas são o maior patrimônio de suas vidas, especialmente na maturidade.
Como Carol me disse:
“A capacidade de amar é um músculo. Dá trabalho, tem que exercitar o tempo todo. A maior riqueza da minha vida são as amigas. Elas cuidam de mim, elas me salvaram em momentos difíceis, com elas eu tenho a intimidade, o amor e a confiança que eu tanto preciso para ser feliz. Sei que, em qualquer momento, posso contar com elas. Eu cultivo as minhas amizades, com mulheres e com homens também. Um dos meus irmãos de coração é um homem. Um grande amigo”.
Andréa me contou que tem amigas de todas as faixas etárias, dos 18 a 80 anos e mais:
“Acho muito rica essa troca, esses vínculos, essa rede de afeto que transita por diferentes idades. Essa mistura. Eu fiz um pacto com a felicidade. Tenho muitos motivos para celebrar a vida, a alegria. É um exercício diário. Estou sempre disponível para as minhas amigas, nos momentos de tristeza e de alegria. Ser feliz não é um destino, é uma escolha diária. E minha escolha é pela vida, pelo afeto, pelos vínculos, pelo cuidado com os amigos e amigas. Estou sempre disponível para as amigas, nos bons e maus momentos. Cultivar a amizade é um trabalho diário, exige disponibilidade de tempo, atenção e amor para escutar e estar presente. É um compromisso diário. As amigas são o meu maior patrimônio”.
“Nesta semana, a antropóloga Mirian Goldenberg quis me entrevistar para um novo trabalho e eu topei, não porque ache que tenho algo a dizer, mas porque é também minha amiga e conversar com ela durante duas horas sobre assuntos dos quais ela entende melhor do que ninguém é um presente.
Lá pelo final das duas horas de papo, Mirian me fez o seguinte questionamento: Há uma coisa que eu observo que você dá muito valor, mais do que o amor, o casamento, o trabalho. Está em todas as suas postagens. Você valoriza, dá espaço, celebra muito. Eu diria que é uma marca registrada sua. O que é?
‘A vida?’, perguntei. Ela disse que não… ‘As amizades com outras mulheres’, ela disse, interrompendo minha divagação, me salvando de mais alguns anos de terapia, se apontasse qualquer coisa que despertasse em mim a síndrome da estagiária, que me consome toda vez que estou diante de uma tela em branco.
Sim, carrego comigo amizades com outras mulheres tão longas que se confundem com minha própria história. Elas estão lá em todas as melhores e piores lembranças. Agora, ao pensar nelas, as vejo sorrindo, gargalhando, me levando pelas mãos, me recebendo num abraço, me acolhendo com palavras… Eu tenho fascínio pelas mulheres, por aquelas que são parecidas e por outras tão diferentes, exatamente por serem diferentes. Porque me completam, porque me mostram o mundo com um olhar que não é meu, sentem dores que não são minhas. Jamais pediria para vir outra coisa que não fosse mulher, se algo como reencarnação de fato exista. Estou presente, estendo a mão, pego um avião, dirijo por horas, não porque sou boazinha, porque preciso delas para me alimentar de vida, de amor, de juízo, de loucura…
Mirian me disse que a amizade entre mulheres é o fator que mais pesa positivamente para um envelhecimento saudável. Faz sentido. Não seria a pessoa quem sou sem as minhas amigas. Elas são o alicerce da minha vida e o meu porto seguro na velhice. E sei que é recíproco. Recomendo”.
Tenho muito orgulho de dizer que essas três mulheres que eu admiro tanto são minhas amigas, um verdadeiro presente que ganhei na minha maturidade. Como Andréa, Mariliz e Carol, eu descobri que a felicidade na maturidade não está no corpo perfeito, na família perfeita, no casamento perfeito, no sucesso, na fama, no dinheiro, no número de seguidores no Instagram… Descobri que o maior patrimônio da minha maturidade são as minhas amigas.
Termino então com uma frase maravilhosa do escritor Caio Fernando de Abreu: “Um amigo me chamou para cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso, e fui…”. Adaptei um pouco essa frase que se tornou o meu mantra: “Uma amiga me chamou para cuidar da dor dela. Guardei a minha na bolsa, e fui…”
![]() Mirian Goldenberg
Antropóloga e pesquisadora sobre envelhecimento e felicidade -
miriangoldenberg@uol.com.br
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