A arte de dizer não

Na minha pesquisa sobre “Envelhecimento e Felicidade”, 32% das mulheres disseram que não são felizes por serem perfeccionistas, insatisfeitas, críticas, ocupadas, preocupadas, estressadas, inseguras. No entanto, 60% afirmaram que querem ser mais felizes, leves e divertidas.

Elas deram inúmeras dicas para a conquista da felicidade, tais como:

  • não ser tão crítica com os outros e consigo mesma;
  • não se preocupar com a autoimagem;
  • não se cobrar tanto;
  • não aumentar pequenos problemas;
  • não se preocupar com a opinião e a aprovação dos outros;
  • não se levar tão a sério;
  • não querer ser perfeita;
  • não ter vergonha do próprio corpo;
  • não se comparar com mulheres mais jovens, magras e sensuais;
  • não se olhar muito no espelho;
  • não conviver com pessoas negativas, agressivas e invejosas;
  • não fingir orgasmos;
  • não desperdiçar tempo com pessoas desagradáveis e fofoqueiras;
  • não ir a eventos sociais por obrigação;
  • não responder a todas as demandas de amigos, familiares ou colegas de trabalho;
  • não dividir o prato só para ser gentil;
  • não atender aqueles que só sabem pedir ou reclamar (e nunca dão nada em troca);
  • não emprestar dinheiro nem para o melhor amigo;
  • não pedir dinheiro emprestado nem para o melhor amigo;
  • não aceitar encomendas quando viajar;
  • não pedir nada para os que vão viajar;
  • não ser fiadora de amigos ou parentes;
  • não mendigar amor, atenção e reconhecimento;
  • não se fazer de vítima;
  • não achar que é o centro do mundo;
  • não deixar para amanhã o que pode resolver hoje;
  • não ter medo de dizer não.

 

Uma professora de 65 anos citou uma frase da atriz Marília Pêra para exemplificar a importância de dizer não para ser mais feliz:

 

A Marília Pêra recusou um projeto importante e uma jovem atriz disse: “Lógico que você pode dizer não, você é a Marília Pêra!” Ela respondeu: “É exatamente o contrário. Eu só sou a Marília Pêra porque aprendi a dizer não.”

 

A professora afirmou que só agora, aos 65 anos, descobriu o segredo da felicidade:

 

Li que o lema da Hillary Clinton é foda-se. Hoje, sou como ela: não me interessa a opinião dos outros, se gostam ou não de mim e se fazem fofocas. Aprendi a ligar o botão do foda-se, passei a dizer não e minha vida ficou muito mais leve, mais livre e mais feliz.

 

É fácil perceber que a “melhor idade” é aquela em que, finalmente, as mulheres conseguem ser mais livres. Como a professora mostrou, não é o envelhecimento que é valorizado pelas mulheres: o que é importante é a liberdade, ainda que tardiamente conquistada, de “ser eu mesma”, com foco nos próprios desejos e no cuidado de si.

O não é a palavra que representa a recusa em assumir os papéis impostos pela sociedade. Muitas mulheres que pesquisei só conseguiram ser mais felizes e livres depois que envelheceram. Será que é necessário esperar tanto tempo para aprender a dizer não?

 

Antropóloga, professora da UFRJ e autora de “A invenção de uma bela velhice”

Mirian Goldenberg Antropóloga e pesquisadora sobre envelhecimento e felicidade - miriangoldenberg@uol.com.br

 

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