Somos seres estranhos. Humanamente, nascemos para morrer. Sob esse ponto de vista, biologicamente estamos fadados ao fracasso. Mas lidamos muito mal com ele. Como se o fracasso fosse eterno, não momentâneo. Como se fosse definitivo, não circunstancial. Nossas reações humanas diante do fracasso são três possíveis – apenas estas: abatimento, arrogância ou resignação.
Por abatimento, muitos eternizam o fracasso e transformam as culpas em fardos eternos. Sejam as suas próprias culpas ou aquelas atribuídas aos outros. Não há consolo, apenas revolta e dor. O sofrimento vira uma droga e viciar-se em sofrer é a única meta do abatido para compensar, com vitimismo e inoperância, seu fracasso.
A arrogância ainda é o pior dos mundos! O fracassado arrogante não enxerga seus erros, quer destruir quem o reprova, não calcula seu redesenho. A arrogância deixa o fracasso em estado de negação: não se assumem…antes se terceirizam as culpas! Não há o que mudar, porque “tudo está perfeito”. O fracassado arrogante diz: “eu não perdi”, “eu sou o melhor”, “ninguém se compara a mim”. Ele está derrotado, cego e – pior – incapacitado de andar, porque se vê grande não por méritos próprios, mas pelo orgulho de, sentindo-se interiormente fracassado, querer ostentar realeza e apequenar os outros.
O resignado é diferente. Admite e administra o fracasso como pedra no caminho. Mas aprende a subir na pedra em que tropeçou para ficar mais alto, ver com amplitude, se redesenhar e voltar MUITO mais forte! Reconhece e abstrai o fracasso, sem precisar negá-lo por vaidade ou vitimar-se por insuficiência.
Entendam: nossa natureza não é a da resignação. A mente acompanha a biologia: nosso raciocínio lógico nos leva a crer muito mais no abatimento (a consciência da depreciação) ou na arrogância (a alienação). Preparar a mente e os olhos para a resignação é um exercício “espiritual” – não no sentido religioso, mas de transcendência, de disposição para mudar o espírito diante das evidências do estado atual. Somos nós, em nossos percursos únicos, que escolhemos se a estrada será a do abatimento, a da arrogância ou a da resignação. Não é só o fracasso que é “nosso”: a escolha de superá-lo, vencer a vida e viver também depende de nós. Pois já dizia o escritor irlandês Oscar Wilde: “Viver é absolutamente fascinante. A maioria das pessoas apenas existe”!
O menino perguntou ao velho sábio qual o motivo de viver sorrindo, se o tempo lhe anunciava, a cada instante, que o fracasso do fim da vida se aproximava. E o sábio lhe respondeu que o fracasso não está no tempo que passa, mas no tempo que se perde, inerte, contando o próprio tempo.
– Hélio Ricardo Rainho
(imagem: adam121 / Fotolia)
Voltar
Excelente venho passando por uma dessas fase, muito me serviu para elucidar situações complicada. Beijinhos