Piauí

A primeira vez que entrei no Parque Arqueológico da Serra da Capivara duas fortes sensações me invadiram. Uma racional, a idéia de estar em frente a um Patrimônio da Humanidade, de poder ver os detalhes das inscrições rupestres mais antigas da América. Registros e vestígios do homem primitivo desde o início dos tempos. A outra era puramente emocional, uma viagem no tempo, um desejo de me conectar com uma espécie de memória atávica que me mostrasse de onde viemos. Essa emoção foi a que me acompanhou o tempo inteiro durante todas as minhas viagens para esse lugar único. Fiquei fascinada ao visitar o Museu do Homem Americano, um trabalho extraordinário da arqueóloga Niéde Guidon, em São Raimundo Nonato. E foram muitas viagens, porque escolhemos o lugar como um dos cenários do nosso filme: “Onde está a Felicidade?

Foi uma história de amor à primeira vista. Uma parte de mim compreendia a importância e a força daqueles desenhos pré históricos, a outra simplesmente se deixava transportar por essa mágica paisagem. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o sentido da vida? As grandes questões estavam todas ali e se resumiam a pequenos desenhos delicados, sensuais, fortes, divertidos que o tempo conservou generosamente. E tudo de uma deliciosa simplicidade. Até que eu descobri o beijo.  O primeiro desenho de um beijo de que se tem notícia. Alguém desenhou um momento de amor. Milhares de décadas se passaram e esse amor permanece. 

Em volta das cavernas, a mata.  A caatinga traduz essa sobrevivência.  Ela está lá e permanece. No período da seca ela parece morrer, perde todas as folhas e ficam só os galhos retorcidos. Parece o fim. Mas depois da primeira chuva, ela brota de novo. Assim como o amor, a caatinga se renova e renasce constantemente. E ela ensina, quem conhece a caatinga, aprende.   

Até que cheguei na Pedra Furada e me vi diante de um grande desenho de Deus. Meu coração serenou e deixei a brisa do fim de tarde me acariciar. Uma espécie de música me envolveu, talvez a de todos os pássaros. O que é que a gente faz diante da maravilha? A gente escuta o silêncio e agradece o Universo. Naquele momento a gente é cúmplice da beleza através das eras. A pedra tem todas as respostas. Testemunha de tudo. Ela sabe. Ela possui a memória dos tempos.

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2 Comentario(s)

Luci disse:

Querida uma parte do texto me chamou atenção: de onde viemos e para onde iremos ,trabalhar digo com toda certeza viemos do po e ao po retornaremos e nossa alma terá um destino com Deus ou longe dele !eu também fazia essas perguntas antes de procurar por
Deus e ele me encontrou e achei as respostas na Bíblia que é sua palavra! Não sei se vai ler mas gostaria muito que sim !um beijao

Valdo Resende disse:

Tive o privilégio de conhecer e realizar um trabalho no Parque Nacional da Serra da Capivara. Seu texto reativou memórias e sensações. Obrigado.

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