Pensamentos malucos

Existe o mundo real, das coisas e pessoas, onde a vida acontece. E existe outro mundo dentro da nossa cabeça, onde as coisas mais malucas são imaginadas e que às vezes, nem a gente acredita que foi capaz de pensar.

Se os pensamentos da gente pudessem ser captados pelas outras pessoas, sem filtro, sem censura, do jeito bruto como acontecem, não sobraria uma relação inteira. Talvez o mundo todo acabasse. Ou cada um de nós iria viver isolado numa caverna pra não ter que explicar nada pra ninguém. Porque, olha, entre os pensamentos que passam na nossa mente todos os dias, todos os momentos, existem alguns tão absurdos que nem terapia dá conta.

Eu, por exemplo, já morri mil vezes nos meus pensamentos. Eu já imaginei meu velório pra ver quem viria com quem,  quem choraria muito, pouco ou mais ou menos, quem contaria piada do lado de fora sem nenhuma cerimônia. Já me imaginei inclusive voltando como fantasma pra atazanar gente que falou no meu enterro e com quem eu contava para derramar pelo menos uma lágrimas.

Mas, tirando esses momentos especiais, no dia a dia meus pensamentos também estão sempre em atividade. Às vezes fazendo coisa tolas, contando azulejos da parede, imaginando a profissão de cada pessoa que passa ou brincando de quem se parece com algum famoso. Em outras ocasiões os pensamentos podem ser bem mais pernósticos e reclamando de tudo e vendo defeito em todos como uma inspetora chata dos tempos do colégio.

Os pensamentos ficam mesmo em revoada como passarinhos na gaiola da cabeça, o dia todo. Só se aquietam quando foco no trabalho ou quando vou dormir. Aí ninguém pode dar um pio. Até aí, normal, ou melhor, anormal como todo mundo.

O problema é quando a gente esquece que eles são só pensamentos e começa dar importância demais a eles. A ouvir e acreditar em seus temores. Nas críticas que fazem a nós. Nas possibilidades de tudo dar errado. Aí mora o perigo. Quando passarinhos se tornam corvos, abutres e deixam de cantar para atacar.

Sempre que isso começar a acontecer, corte. Pare. Imediatamente. Distraia-se com alguma coisa legal, foque num trabalho, converse com alguém. Areje a cabeça. Mande os corvos pra longe. 

Pensamentos sempre virão e irão. Deixe que cheguem e partam.
Só não deixem que eles atrapalhem a realidade, as relações, os sentimentos bacanas. Porque é aqui, na realidade, que a gente ama, vive e, com um pouco de sorte, cresce como ser humano.

ROSANA HERMANN Escritora, corredora e tricoteira, sempre ligando pontos e tecendo considerações. rosana@gmail.com
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1 Comentario(s)

WILLIAN VARELLA FIGUEIREDO disse:

Bárbara,como sempre. Adoro os textos dela. Obrigado por tais ensinamentos.

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